Apenas na Finlândia os juros são mais baixos. Em Portugal, a taxa de juro é inferior a 1% desde agosto de 2020.


A corrida ao crédito à habitação está ao rubro em Portugal. As pessoas continuam a apostar na compra de casa – a cultura de ser proprietário está ainda bem vincada no país – e os bancos têm mostrado disponibilidade para emprestar dinheiro barato. Os números mais recentes do Banco Central Europeu (BCE) confirmam, de resto, este cenário: Portugal é o segundo país da Zona Euro com os juros mais baixos, sendo apenas destronado pela Finlândia. 

Os dados, relativos a abril de 2021, permitem ainda concluir que as Euribor (a taxa de juro implícita no conjunto dos novos contratos crédito à habitação) mantêm-se em níveis historicamente baixos em Portugal. A taxa é inferior a 1% desde agosto de 2020, encontrando-se atualmente (em abril) em 0,85%. Foi em fevereiro de 2021 que se registou o valor mais baixo desde que há registos no BCE, ou seja, desde janeiro de 2003 – taxa chegou aos 0,75%.

A taxa de juro implícita no conjunto do crédito à habitação varia muito entre os vários países da Zona Euro, sendo a média da região de 1,31%, em abril de 2021. Bem superior, portanto, à verificada em Portugal. 

Como se pode ver no gráfico, só na Finlândia os juros são mais baixos, 0,73%. Em Itália e Espanha, por exemplo, ainda se encontram acima da fasquia dos 1%: 1,37% e 1,49%, respetivamente. Já a Irlanda é o país onde os juros são mais elevados (2,70%). Acima do limiar dos 2% estão também Chipre, Lituânia, Estónia, Letónia e Grécia. 

Segundo Miguel Cabrita, responsável do idealista/creditohabitação em Portugal, tendo em conta a situação atual, o país está favorecido por dois fatores: “Por um lado, os mínimos históricos da taxa Euribor, e por outro a forte concorrência que existe entre os bancos para atrair clientes”. Quanto ao futuro, o especialista hipotecário antevê que “este cenário se vai manter nos próximos meses, embora não seja possível prever novas reduções nos juros. As previsões são que não há sinais de alteração dos níveis de preços praticados atualmente”, acrescenta.

Crédito à habitação em máximos

O negócio do crédito à habitação está em alta em Portugal, uma tendência que não abrandou com o súbito aparecimento da pandemia da Covid-19, em março do ano passado. Pelo contrário: em abril, os bancos emprestaram 1.220 milhões de euros para a compra de casa, menos que em março (1.382 milhões de euros), mas ainda assim acima da fasquia dos mil milhões. Trata-se, de resto, do segundo valor mais elevado desde janeiro de 2008.

Também as avaliações bancárias para efeitos de concessão de crédito à habitação estão em valores históricos. O valor mediano está a subir desde outubro de 2020, tendo alcançado, em abril, os 1.200 euros por metro quadrado (euros/m2).

De referir ainda que os empréstimos de crédito à habitação com taxas de juro mistas e fixas estão a aumentar, apesar das operações associadas às taxas variáveis ainda representarem a maioria dos novos montantes contratados no país. No primeiro trimestre, 68,6% do crédito à habitação concedido foi através da taxa de juro até 12 meses, tendo o restante montante sido feito com taxas de juro acima de dois anos, sendo a maior fatia correspondente a soluções com taxa fixa.

Na verdade, tem-se vindo a assistir a uma redução das taxas de juros dos créditos à habitação tanto na oferta de taxa variável como na oferta de taxa fixa. Segundo o comparador do idealista/créditohabitação, é possível encontrar empréstimos de taxa variável com spreads a partir de 0,95% e de taxa fixa a partir de 1,40%, com bonificação (os mais comuns são a domiciliação de salário, contratação de seguro de vida ou multirriscos).

Condições que mostram que os bancos estão em plena guerra comercial para captar novos clientes, o que pode ser encarado como uma vantagem para quem precisa de financiamento para a compra de uma casa.

Crédito à habitação em Portugal e na Zona Euro
Imagem de christinak93 por Pixabay

Os “segredos” para ter um crédito à habitação

Primeiro há que ter em conta que os bancos que mais financiam estão dispostos a emprestar até 90% (menor valor entre avaliação e compra), apesar da tendência mais conservadora por parte de alguns bancos. Ou seja, é necessário ter poupanças suficientes para, pelo menos, cobrir os 10% restantes, sem esquecer os impostos e as despesas da operação.

Contudo, a equipa do idealista/créditohabitação recorda que “pode haver outras soluções para empréstimos que não se enquadram nestes rácios e que existem produtos no mercado que ajudam no processo de troca de casa”. 

Quem não tiver poupanças suficientes pode procurar imóveis de bancos, sobre os quais é possível obter financiamento até 100% do valor de aquisição. Outra opção é adquirir imóveis em planta, pois é possível ir pagando mensalmente algum montante enquanto a casa está em construção, com a finalidade de conseguir o valor mínimo necessário para obter o empréstimo no momento da entrega das chaves.

Na hora de pedir um crédito à habitação, Miguel Cabrita aconselha os consumidores a analisarem quais os bancos e produtos que se enquadram nas suas necessidades.

Os passos a dar para conseguir um empréstimo para comprar casa

Uma vez identificadas várias ofertas que se ajustam ao perfil pretendido, convém “pedir condições a diferentes entidades”, nas quais se especifica, sempre com carácter orientativo, as condições financeiras do crédito à habitação e as comissões a cargo do cliente. Se solicitado, a entidade bancária é obrigada a entregar-te de forma gratuita uma FINE (Ficha de Informação Normalizada Europeia), cujo conteúdo é regulado pelo Banco de Portugal, recordam os especialistas do idealista/créditohabitação. Em caso de dúvida, convém recorrer à ajuda de um intermediário de crédito, que costumam ter acordos com a maioria dos bancos, conhecem o mercado e podem acelerar os procedimentos, referem.

Depois de eleito o banco onde se quer pedir o empréstimo, o cliente pode dirigir-se diretamente para apresentar toda a documentação. Após a apresentação dos documentos – podem ser consultados neste link –, há que esperar a resposta do banco, isto é, se concede ou recusa o empréstimo. Habitualmente pode demorar cerca de uma semana, dependendo do banco.

“Com a avaliação, a entidade emitirá a FINE de aprovação, ou seja, a oferta definitiva. Trata-se de um documento que deve conter todas e cada uma das condições financeiras do contrato (montante, nº de prestações, comissões, prazos de revisão…) e terá uma validade de 30 dias, período durante o qual as condições estarão vigentes, sendo que se terá de respeitar o período mínimo de 7 dias para reflexão”, esclarecem desde o idealista/créditohabitação. Esta oferta evita desentendimentos das negociações verbais e em alguns casos leva ao pagamento de uma comissão (comissão de estudo), mesmo que o cliente desista do processo.


Fonte: https://www.idealista.pt/